Dia 13 – Atividades de Grupo
Grupo E
10h – Mediação Narrada –
Miguel Horta
Nem uma palavra, nem um aviso,
nenhuma preparação. O grupo chega ao pé da obra. Pausa. O mediador olha uns
segundos para o chão. Arranca com uma interpretação fenomenal (diz ele que não
é ator) que me faz bater o record do mundo de apneia em museus: 10 minutos! Conta
uma história que parece ser dele, ou não, que parece ser um texto decorado, ou
não, que parece ser sobre o quadro, ou não, que parece ser… ou não.
A verdade é que o meu olhar
saltava dele para a obra, da obra para ele, passando pelas palavras e acabando
nos detalhes dos quadros. Não fiquei a saber nada sobre a pintura da Paula
Rego, é verdade, mas fiquei com muita vontade de procurar saber mais. O meu
ceticismo inicial desvaneceu-se no fascínio da experiência. Não foi uma visita
guiada no sentido mais clássico da ideia mas foi, como experiência pessoal,
muito melhor. Também é verdade que no fim da performance (uma obra de arte
sobre uma obra de arte) poderia ter havido um espaço para uma discussão mais
técnica (com mais terminologia de arte), mais centrada no objeto artístico. No
entanto, como qualquer processo experimental, a evolução ou continuidade da
ideia pode e dever ser melhorada, acrescentada. Espero que não se esgote no
final da conferência.
Alguém me perguntava no debate
final, que semente da obra tinha ficado em mim. O que é que eu tinha ficado a
saber mais sobre o tríptico? Nada provavelmente, mas sozinho passaria pelo quadro,
lia a legenda e nunca mais voltava a pensar no assunto, assim quero saber mais,
muito mais!
Obrigado Miguel.
12h – As escalas do objeto e
os desafios da alteridade no espaço – Lorena Querol e Pedro Pereira Leite.
A primeira sensação que tive foi
a da cor. Uma sala com quadros muito coloridos. Senti vida. Senti calor.
Rapidamente senti desconforto pelas interpelações dos mediadores. Queria ouvir,
não queria falar. O quebra-gelo separou os grupos por origem profissional ou de
interesse. Sem interesse. Tecidos coloridos em monte (também devem ter
contribuído para a sensação inicial), escolham e agrupem-se pela escolha.
Porquê essa e não outra? Aproximem-se do quadro. Mais. Mais. Mais! Ok. Quentes,
enrolados e juntos. O que veem? (já não sei escrever esta palavra com o novo
acordo). O que sentem? A ficar interessante.
As vossas cores onde estão. Os
sabores. Os cheiros. As emoções e as confusões. É um Amadeo de Souza-Cardoso, toda a sala é! (que ignorante). As
opiniões dividem-se, partilham-se, confrontam-se. Cada vez mais interessante. O
que quereria o artista representar? Alucinações, diziam uns, sensualidade,
diziam outros, o reflexo de um contexto histórico, rematava alguém. Continuei a
questionar… mas e o artista? Não interessa, parecia ser a opinião geral. Cada um
deve ter a sua.
Como confessei no debate, fiz uma
batota e recorri (novamente) à tecnologia de bolso e fui saber o que dizia o
próprio CAM sobre a obra. Preciso saber estas coisas e a sensação de dúvida
provoca-me inquietude. Um nu feminino
acolhendo no seu boudoir um fumador
masculino… A sério?! Não vi. Mas também não foi mau por isso. Antes pelo
contrário Interessantíssimo. A Ecologia
dos Saberes funcionou em pleno comigo.
No entanto. Não estou seguro de
ser um modelo a aplicar com publico regular num contexto normal de visita. A
nossa predisposição de conferencistas, ajudou ao resultado final.
Dia 13 – Atividades de Grupo
Grupo E
15h – Voz-Guia – Rita
Sales
Que boa ideia! Simples, eficaz,
original e estimulante. Sim, podia ser mais bem conseguida (sobretudo se os
artistas-guias tivessem seguido melhor o que foi pedido) mas, mais uma vez, a
experimentação faz parte dos bons resultados. Seria um modelo, devidamente
trabalhado e afinado, que eu seguramente implementaria no “meu” museu.
Adorei sentir a companhia da Olga
Roriz no meu ouvido. Foi gratificante sentir que vimos tanta coisa da mesma
maneira e de maneiras tão diferentes. Foi pena não ter sido possível, em termos
de tempo, experimentar todas as vozes. A Rita ainda tentou que em determinados pontos-chave
fosse possível mudar de artista-guia. Não foi tecnologicamente possível para
esta experiência, mas só a ideia já faz sorrir.
E se o museu tivesse uma panóplia
de “vozes”, mais ou menos conhecidas, a oferecer? Músicos, bailarinos, atores,
artistas plásticos, críticos, políticos, desportistas, etc., etc., etc. Quem
sabe se nalguns casos os próprios artistas com obras expostas o quereriam
fazer? Fica a sugestão. Muito bom!
Nota geral do dia:
Hoje sim! De todos para todos. O
tempo do templo das musas para fruição dos sábios já passou. Um museu é um
lugar de partilha para quem sabe muito, pouco ou até mesmo nada. Assim deve ser
a mediação, assim deve ser a comunicação com os públicos. Assim devem ser as
conferências sobre o tema. Ninguém gosta de se sentir excluído pelo
conhecimento.
Este segundo dia de conferência
foi estimulante, desafiador, de uma partilha tremenda e um desafio às nossas
reações. As sessões foram muito originais, bem pensadas e deram origem a
debates extraordinários. Todos os modelos precisam de afinações mas até isso
foi positivo, pois demasiada perfeição retirava espaço para o desafio. Só tenho
mesmo pena que não seja possível fazer as 5 atividades. Estou cheio de
curiosidade de saber como foram as outras.
Parabéns!
Bruno Araújo-Gomes
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